retrato

o retrato pode ser terapêutico.
é comum ouvir fotógrafos, principalmente de mulheres, comentarem que um ensaio foi feito para "melhorar a autoestima". até aí, nada de novo. 
o que nem sempre se prega, é que o retrato, especialmente este que pretende ser instrumento de luz para algo tão machucado quanto a nossa autoestima, pode ir muito além. 
um retrato com alma pode te apresentar a você mesmo.
não aquele você das selfies calculadas de rede social (nada contra), não aquele você medido para causar impacto (absolutamente nada contra, pode ser extremamente terapêutico também), não aquele você das caras, bocas e bicos, que vem fácil porque é a face que habitualmente se mostra, a face maquiada para as fotos da posteridade.
não aquele. o retrato pode ir além.
da mesma forma que olhando para uma obra de arte vê-se aquilo que se leva dentro, o encontro com um retrato nosso, e o processo de criá-lo, pode revelar pedaços que pouco temos o hábito de encontrar. alguma coisa que nos escapou ou se escondeu. alguma coisa que, nem sabíamos, sobreviveu. alguma coisa que nos foi ensinado a reprimir. alguma coisa que morreríamos se alguém visse. alguma coisa que rezamos pra que alguém veja. alguma coisa que chega como fruto das sementes que cultivamos.
um olhar franco, presente e sem julgamentos sobre nós, através de uma câmera atenta à nossa esquiva voluntária, é o olhar que deixou de se afogar nas águas rasas do narcisismo ou da projeção.
este olhar curativo pode nos levar pela mão a cruzar pontes, por vezes, aparentemente intransponíveis. são saltos, é bem verdade, e o depois permanece como incógnita. mas são saltos dados a quatro mãos, com a rede de segurança de maior grandeza que se pode encontrar; a flor dos desertos e dos penhascos: a empatia.
esta, cura e ressuscita, cruza espaços distantes, acessa o mais humano em cada ser.


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