ter ou não ter opinião

aí eu achava que fosse frieza ou falta de opinião.
se ao entrar em contato com qualquer situação , eu não me envolvo, de duas, uma: ou meu coração é frio, ou eu sou a fracote em cima daquele muro que detesto estar. 
desse jeito, nada é intencional. e essa palavra surgiu na minha vida, ainda não totalmente revelada, como um furacão. intenção. não nos demos inteiramente a conhecer, mas temos nos aproximado. 
ser intencional é praticar um motivo na ação. é saber porquê. é navegar solta sim, aos ventos, mas escolhendo a forma de navegar.
e aí, quando eu me envolvo simplesmente, num comportamento, numa situação, no que seja que venha do externo, é que eu me permitir sugar. eu fui puxada pra dentro, ao invés de escolher entrar.
perdida nessa espiral que nunca foi minha, minhas emoções bagunçam e eu nem consigo ficar de pé. não consigo perceber, nem olhar. já não sou mais eu, sou um híbrido subumano dos detritos e pedaços soltos misturados com o que sobrou de mim.
quando abro esta porta, percebi, tudo entra. caída no chão pela espiral que me arrastou, eu nada posso. não posso ver, não posso ouvir, não posso sentir nem ajudar com clareza. sou um deslizamento de emoções estranhas morro abaixo.
essa porta aberta, tem um nome menos agradável que, por muito tempo, chamei de sensibilidade. é conhecida por julgamento, mas eu, perdida no deslizamento que me engoliu, não destingui terra fértil de lama tóxica.
pensava que descer do muro, ou me envolver, significava criar meu próprio juízo de valor sobre aquilo que observava.
"é terrível isso que aconteceu a ela", " que absurda esta postura dele". porta aberta. e lá vou eu, trazer pra dentro todos os reflexos do meu juízo, como um espelho de aumento que faz voltar tudo vezes dez pra mim.
e os "terríveis" e "absurdos" do meu próprio julgamento estavam apenas prestando seu serviço ao fluxo natural desta dança que viemos participar, sem ter antes aprendido os passos. meus olhos, pregados só na minha perspectiva, jamais poderão saber.