sobre não pedir licença


de tanto ser educado a gente deixa de tomar a própria vida para si.
de permissão em permissão, vai ficando para trás o tesão!  vai ficando a urgência! o "quero"! o "sim"! o "agora"! o "fui"! o "fiz"! o "sou"!
nessa levada morna, as exclamações cheias de vigor e alegria dão lugar às lacônicas reticências preenchidas de espaços vagos e inférteis.
- será que eu posso ser isso? , indaga a voz tola na cabeça, sempre à espera de licença para explorar o próprio caminho.
- será que vai dar certo? , ecoa.
será que será?
antecipando a reação do mundo de fora e do mundo de dentro, a cadeira quentinha do conforto emocional permanece impassivelmente instalada na sala de estar das nossas escolhas.
a gente sentadinho, como pessoa educada que deve ser.
o "bom tom" é veneno que se toma em silêncio, e é cobra criada da educação. aquela que visa o bem de todos e a felicidade geral da nação.
não, não fico.
não fico nem mais um minuto em educado desespero silencioso.
a ação destemida é um grito!
e por amor eu grito. por amor eu ouso perturbar o silêncio cortês da coerência opaca dos meus dias.




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