da palavra afiançada

minhas preferidas são as palavras que chegam como um abraço sem mapa.
simplesmente dizer, simplesmente ouvir, simplesmente estar.
sim, a conversa verdadeira é sempre uma ponte que se ergue sem tijolos. e nem os poderia ter, tijolos, ou nada que requer esforço, regra, precisão.
só poderia ser feita de palavras voadeiras, palavras beijoqueiras, palavras curiosas.
porque a palavra também precisa querer. ela precisa ter esse desassossego que se acha que só as gentes têm. se a palavra não quiser subir no trem, amigo... esquece. se a palavra não quiser chegar e se fazer estar, não há hospitalidade neste mundo que convença.
a lindeza maior que tem é isso: o conversê bobo e solto, como aquele amigo íntimo que não pede licença pra entrar na sua casa ou mexer nas suas coisas, aquelas que ele sabe que você tem ciúme.
a palavra solta serpenteia ao redor da gente e faz a gente serpentear também, de alegria.
é feito um prato cheio da comida que a gente gosta: sacia, alimenta, nutre. enche do prazer que só aquilo que toca dentro consegue.
a palavra que simplesmente vem, é o estado de presença mais cheio da alma: dá gratidão na gente, só de estar vivo.


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